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Suicídios Exemplares

Enrique Vila-Matas

Em Suicídios Exemplares a ideia de se matar torna-se a saída para as deceções ou ausências nas vidas dos personagens. Contudo, acontece sempre alguma coisa que altera o desfecho esperado. Com narrativas cheias de imaginação, subtileza e inteligência, a obsessão pelo suicídio acaba, paradoxalmente, por afastar a tentação da morte, tornando-se num incentivo para a vida e transformando positivamente a ação dos heróis deste livro.

«Há uns anos começaram a surgir uns misteriosos graffiti nas paredes da cidade de Fez, em Marrocos. Descobriu-se que eram traçados por um vagabundo, um camponês emigrado que não tendo conseguido integrar-se na vida urbana para se orientar começara a marcar os itinerários do seu próprio mapa secreto, sobrepondo-os à topografia da cidade moderna que lhe era alheia e hostil.
A minha ideia, ao iniciar este livro contra a vida alheia e hostil, é agir de modo semelhante ao do vagabundo de Fez, ou seja, tentar orientar-me no labirinto do suicídio marcando o itinerário do meu próprio mapa secreto e literário e esperar que este coincida com aquele que tanto atraiu o meu personagem favorito, esse romano do qual Savínio na Melancolia hermética nos conta que, a traços largos, a princípio viajava sumido na saudade, mais tarde foi invadido por uma tristeza muito humorística, procurou depois a serenidade helénica e finalmente — “Tentem, se puderem, deter um homem que viaja com o suicídio na lapela”, dizia Rigaut — deu uma digna morte a si mesmo, e fê-lo de um modo ousado, como protesto por tanta estupidez e na plenitude de uma paixão, pois não desejava diluir-se obscuramente com a passagem dos anos.»

PORTO EDITORA

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Esgotado

Em Suicídios Exemplares a ideia de se matar torna-se a saída para as deceções ou ausências nas vidas dos personagens. Contudo, acontece sempre alguma coisa que altera o desfecho esperado. Com narrativas cheias de imaginação, subtileza e inteligência, a obsessão pelo suicídio acaba, paradoxalmente, por afastar a tentação da morte, tornando-se num incentivo para a vida e transformando positivamente a ação dos heróis deste livro.

«Há uns anos começaram a surgir uns misteriosos graffiti nas paredes da cidade de Fez, em Marrocos. Descobriu-se que eram traçados por um vagabundo, um camponês emigrado que não tendo conseguido integrar-se na vida urbana para se orientar começara a marcar os itinerários do seu próprio mapa secreto, sobrepondo-os à topografia da cidade moderna que lhe era alheia e hostil.
A minha ideia, ao iniciar este livro contra a vida alheia e hostil, é agir de modo semelhante ao do vagabundo de Fez, ou seja, tentar orientar-me no labirinto do suicídio marcando o itinerário do meu próprio mapa secreto e literário e esperar que este coincida com aquele que tanto atraiu o meu personagem favorito, esse romano do qual Savínio na Melancolia hermética nos conta que, a traços largos, a princípio viajava sumido na saudade, mais tarde foi invadido por uma tristeza muito humorística, procurou depois a serenidade helénica e finalmente — “Tentem, se puderem, deter um homem que viaja com o suicídio na lapela”, dizia Rigaut — deu uma digna morte a si mesmo, e fê-lo de um modo ousado, como protesto por tanta estupidez e na plenitude de uma paixão, pois não desejava diluir-se obscuramente com a passagem dos anos.»